"Todo mundo gostaria de passar a tarde com um príncipe. Principalmente vocês, mulheres, né?" O comentário foi feito na manhã desta terça-feira (29) pelo presidente Jair Bolsonaro a jornalistas, na saída do hotel onde está hospedado em Riade, capital da Arábia Saudita, para uma série de compromissos oficiais.
O presidente havia sido questionado por uma repórter sobre a pauta que seria discutida entre o líder brasileiro e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, conhecido como MBS - com quem tem três encontros marcados na capital do país árabe.
"Tem uma certa afinidade entre nós dois, desde o ultimo encontro em Osaka (na reunião do G20). Acredito que vai ser uma tarde bastante proveitosa", completou Bolsonaro.
Aos 34 anos, MBS acumula as posições de ministro da Defesa, vice-primeiro ministro e herdeiro do trono saudita e vêm ganhando destaque na imprensa internacional graças a seus esforços para modificar a imagem internacional do reino saudita, um dos mais conservadores e fechados de todo o mundo árabe.
Bolsonaro abandona entrevista após pergunta sobre STF
Durante a entrevista concedida nesta terça-feira, o presidente se mostrou otimista para a assinatura de acordos bilaterais sobre segurança alimentar e defesa, sem dar detalhes. "Tudo é prioridade", limitou-se a dizer. Quando a BBC News Brasil iniciou uma pergunta sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello, que classificou o comportamento de Bolsonaro como "atrevimento" e falta de "limites", Bolsonaro rapidamente abandonou a entrevista.
A declaração do decano do STF nesta segunda-feira se referia a um vídeo publicado no perfil pessoal do presidente no Twitter que mostrava um leão associado ao nome do presidente e um grupo de hienas associadas ao STF, a jornais e televisões, órgãos como a ONU, a OAB e a CUT, e partidos como o PT, PSDB e o PSL, que vive um racha com o presidente, eleito pela sigla. O vídeo foi apagado em seguida.
"Torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções, pois o vídeo que equipara, ofensivamente, o Supremo Tribunal Federal a uma 'hiena' culmina, de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores", disse Celso de Mello, em nota.
Destaque na 'Davos do Deserto'
O presidente Jair Bolsonaro encerra seu giro de 12 dias pela Ásia e Oriente Médio na Arábia Saudita, que começou no dia 19, com um papel de destaque no maior evento relacionado a mega investimentos de todo o Oriente Médio.
Conhecida como a Davos do Deserto, a conferência Future Investment Initiative começa nesta terça-feira e terá Bolsonaro como convidado de honra na manhã de quarta. Ele participa de uma mesa com o tema "O retorno à prosperidade: como um novo ambiente de negócios pode colocar o Brasil de volta aos trilhos" para uma plateia com os CEOs dos principais bancos de investimentos internacionais e magnatas do petróleo no mundo árabe.
Além dos principais membros da família real, Bolsonaro também tem audiência com o CEO global do banco Goldman Sachs, John Waldron.
Foco econômico
O principal objetivo da viagem presidencial é "econômico", afirmou Bolsonaro nesta segunda-feira (28). Ele fica na Arábia Saudita até amanhã, quando se encontrará a portas fechadas com o rei Salman Bin Abdulaziz Al-Saud.As duas prioridades da visita são atrair investimentos sauditas no setor de petróleo e em projetos de infraestrutura do Programa de Parceria de Investimentos (que inclui concessões, privatizações e concorrências para grandes obras) e tratar das exportações de frango para os sauditas.
O presidente mira a participação dos sauditas, principais produtores do planeta de petróleo, para o leilão do pré-sal que acontece em novembro. Segundo uma importante autoridade brasileira envolvida nas negociações ouvida pela BBC News Brasil, o fundo soberano saudita - estimado em US$ 300 bilhões, segundo o Instituto Internacional de Finanças (IIF), que reúne as maiores instituições financeiras mundiais - é a menina dos olhos do governo brasileiro.
Bolsonaro confirmou que vai tentar convencer os sauditas a voltarem a comprar frango da gigante brasileira BRFoods.
"Vou tratar da questão do frango", disse Bolsonaro ao chegar na cidade. "É como toda ferida: será cicatrizada." O país cortou as compras de frango produzido pela BRF nos Emirados Árabes como parte de sua estratégia de reduzir sua dependência do petróleo e aumentar a produção interna de carne.
Segundo a BBC News Brasil apurou, o CEO global da BRF também veio à Arábia Saudita para acompanhar reuniões entre os dois governos. Com sete escritórios só na Arábia Saudita, a BRF emprega 400 pessoas no país.
A marca Sadia, da empresa, é líder no mercado e tenta se expandir para fornecer carne e embutidos a uma população de aproximadamente 30 milhões de habitantes.
"(A BRF) é um dos assuntos mais importantes para o governo brasileiro", concluiu a fonte.
Abertura saudita ao turismo
O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, também é responsável por uma série de reformas que visam reduzir a extrema dependência do país do petróleo. Entre elas está a abertura do país ao turismo.
Até 27 de setembro deste ano, visitas ao país eram permitidas apenas a partir de convites vindo de empresas do país ou do governo. O recém-criado visto de turismo é válido para cidadãos aproximadamente 50 países.
O Brasil não está nessa lista - que permite aos cidadãos dos países listados aplicarem para o visto de turismo eletronicamente. Sendo assim, para obter a autorização, brasileiros vão precisar ir ao consulado mais próximo ou à embaixada da Arábia Saudita em Brasília. Mais informações no site oficial do país.
Antes da nova regra, os únicos países cujos cidadãos podiam visitar a Arábia Saudita eram os vizinhos Emirados Árabes, Kuwait, Bahrein e Omã. Muçulmanos também costumam conseguir vistos especiais para peregrinação a Meca.
A expectativa da família real saudita é atrair em torno de 1,5 milhão de estrangeiros por ano.
'Vocês estão mais bonitas assim'
Assim que desembarcou do carro oficial em seu hotel na segunda-feira em Riade, capital da Arábia Saudita, o presidente Jair Bolsonaro decidiu comentar o visual das jornalistas brasileiras, que estão vestindo véus e abayas, uma espécie de túnica que esconde as formas do corpo para obedecer a regras de "decência" e "respeito" da sharia (lei islâmica).
"Que maravilha. Vocês estão mais bonitas assim, sabiam?", disse Bolsonaro ao se aproximar dos jornalistas para uma breve entrevista antes de entrar no hotel.
O presidente prosseguiu, enquanto uma jornalista perguntava sobre as expectativas de negócios para o Brasil na Arábia Saudita."Quando a beleza é muito grande, ofusca os olhos da gente. Assim vocês ficam mais bonitas", disse.
2019-10-29 10:15:03Z
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